Ainda o canhão do Itabapoana

Ele também fez um comparação muito interessante.

O Rodrigo Torres, colega de profissão e ora doutorando na Texas A&M University, nos EUA, coloca boas perguntas sobre a identificação do canhão utilizado para amarração em Barra do Itabapoana, RJ, tema da última postagem deste Blog.
A primeira pergunta se refere sobre a forma de carregar a arma. O canhão é de antecarga, ou seja, de carregar pela boca. Canhões de carga pela culatra - tais como são municiados os canhões contemporâneos - são peças menos elaboradas do que esta, muito embora o padrão Armstrong já seja bastante 'limpo' para sua época. Também não foram identificadas raias na boca do cano, o que indica a idade da peça. Na segunda metade do século XIX, praticamente não mais eram fabricados canhões de cano liso, principalmente a partir das décadas de 1860-1870, época em que começaram a se popularizar os canhões de carregar pela culatra.  
Continuando, como a maior parte da peça do Itabapoana está enterrada - justamente a porção que daria mais informações sobre ela - identifiquei-a pela simples comparação com outras, tais como as existentes em São Sebastião e Cananéia, no litoral norte e sul de SP, respectivamente. Outro fator que leva a considerar o canhão do Itabapoana como sendo do padrão Armstrong é a imensa difusão que esse tipo de peça de artilharia teve no litoral brasileiro no início do século XIX.
Infelizmente o estado de conservação do canhão de Barra do Itabapoana não é dos melhores, o que não garante a certeza absoluta de identificação. Mas vejamos as similaridades.
Antes, eis uma taxionomia dos canhões de antecarga publicada no periódico 'O Arqueólogo Português' (lamento ter esquecido o ano e o número, mas quem quiser pode procurar na minha dissertação de mestrado) para facilitar a compreensão:

O canhão do Itabapoana tem a tulipa e a bolada característica do padrão Armstrong, como pode ser depreendido a partir das imagens dos canhões abaixo:

Canhão de Barra do Itabapoana;

Este é um dos canhões da praça central de Cananéia, fotografado por mim em 2000. Destaque para a linha transversal que forma o bocel da tulipa, bastante parecido com o do canhão do Itabapoana.

Já este é um dos canhões de São Sebastião, do mesmo padrão do de Cananéia, também fotografado por mim em 2000. Note-se o bocel da bolada, a linha transversal próxima à moldura do 2º reforço, à altura do munhão. Aparentemente o canhão do Itabapoana possui um indício do bocel da bolada, praticamente desaparecido em razão de séculos da fricção das amarras dos barcos.
Bom, este é um tema que rende bastante e daria para continuar abordando diversos outros aspectos do assunto. Como eu disse antes, não dá para ter certeza absoluta da identidade da peça, mas todos os indícios levam a crer que ela seja mesmo desse padrão.
fonte:http://arqueosubforadagua.blogspot.com/

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